Homem sai para trabalhar e deixa mulher de cabelo em pé. Só a pensar em suas palavras que, por sinal, considera besteiras.
– Onde já se viu? Paulo parece que tá ficando besta! Desconfiar de uma menina de apenas 14 anos, que nem de casa sai? Malmente vai pra escola e na casa da vizinha chupar manga! – Falava sozinha a mãe de duas garotinhas inocentes e de um menino bem sapeca, como todos na casa pensavam, menos o maridão.
No restante do dia tudo aconteceu com tranquilidade. Não foi melhor porque quando voltou para almoçar, seu Paulo puxou novamente o mesmo assunto.
– Acho que tem gente escondendo alguma verdade de mim. Na roça, tão me olhando desconfiando. Como se quisessem me dizer alguma coisa. Quero saber o quê.
– Calma, homem! Você agora deu pra cismar com todo mundo. Já começou aqui em casa…
– Aqui em casa?! – Perguntou Maria, a que tinha 14, toda sem graça, desconfiada.
Antes mesmo que a mãe pensasse no que responder, o chefe da casa falou, zangado:
– Sim, senhora! Já me disseram que o filho da vizinha tava de chamego com minha família. Tem alguma coisa aí nessa barriga?
– Oxe, painho! Ninguém fez nada, não. Por que o senhor tá assim? Só vou na casa de dona Marina porque ela me dá manga.
– Sabe por quê? Vou dizer agora!
–Não fique assim, Paulo. Você sabe que essa menina vive comendo até o caroço da manga.
A garota tremeu na base. Ficou pálida! Os outros dois, bem calados, olhos arregalados, não entendiam nadica de nada.
– Ai, tô tonta! Acho que vou vomitar. Comi demais! – Logo saiu correndo para o banheiro. Ao voltar, o pai de família já estava de saída, e deixava um recado.
– Vou descobrir o que tá acontecendo! Nesse angu tem caroço! Cedo ou tarde a verdade aparece. – Assim seguiu de volta para o batente.
Pela manhã, os filhos mais novos foram para escola enquanto a irmã ficou a enjoar. Dessa vez era de verdade. Enjoou tanto que esqueceu a enfaixa.
– Valha-me, Deus! O que é isso, menina! – Gritou a mãe, ao ver o tamanho daquela barriga.
– O que foi Josefa? – Perguntou o marido, que acabara de entrar em casa e corria para o quarto.
– Vixe, meu Deus! – Agora quem gritou foi ele! – Nunca ouvi dizer que caroço de mãe engravida!
A mulher vivia a dizer que a filha comia até o caroço da manga. Só na casa da vizinha!
Mazé Maurício, 15 mar.2019.