Quem tem um amigo de confiança não me mete inveja. Também tenho o meu confidente, mas com ele repito otambém tenho e, em seguida, cuidado. Talvez você até consiga imaginar por quê. É meu amigo, irmão, camarada, só que o desgraçado não consegue segurar nada. Sem mais nem menos joga tudo no ventilador. Nunca vi uma língua solta desse jeito! E o pior é que tudo parece fazer sem querer. Quando se dá conta já soltou o verbo e aí não tem como voltar atrás. Depois da merda feita, o que resta é aguentar as bordoadas. Esse é o destino de gente assim. Quem manda não ter desconfiômetro, e, ainda achando que é pouco, se preocupar demais com a vida dos outros?
Uso aqui o vocábulo no presente porque é uma situação bem atual. Vivo isto quase todos os dias. A criatura me persegue. Trabalha na mesma empresa que eu. Quando menos espero, lá está ela, se metendo onde nunca é chamada, mas não consigo ficar com raiva e me afastar. Parece que tem sangue doce. Talvez por ser tão carismática e nunca ficar zangada. Sempre tem uma palavra de conforto para quem se encontra ao seu lado. Até hoje não consegui me distanciar. Confesso que já tentei, mas esse meu companheiro é mesmo capaz de transformar minha vida num paraíso. Evitou que a mulher me pegasse no flagra não foi uma vez só, vive dano presente a meu filho, sempre visita minha família, especialmente quando estou viajando. Faz de tudo, evitando que um de nós passe dificuldades. Quem não quer um amigo como esse? O que falta para ser perfeito é esquecer o que vê e escuta. Como sei que isso não vai acontecer, devo me contentar. Mas tenho que ficar na bituca: um olho fechado, e outro aberto. Bem arregalado!
Tem horas que chego a pensar que o débil mental sou eu. Sei que, mesmo muitos homens, e também mulheres, tendo nascidos com esse admirável talento, nem todos o desenvolveram. Há realmente alguns seres na face da Terra que lutam contra desejos avassaladores, contra a vontade de sair por aí distribuindo ideias e informações que podem lascar com a reputação social, principalmente de gente safada. Como não faço parte desse rol, vivo a vida tranquilo, com meu grande e fiel amigo. Mas o danado, quando solta a língua de trapo, logo trata de amenizar a situação. Então, fica tudo bem. Não é todo dia que tem alguém de boa vontade a seu lado, ou seja, cuidando do seu filho, e da sua mulher também. Um irmão de verdade. Mesmo sem freio na língua, está à disposição, servindo de companhia para as pessoas que mais amo, me deixando sempre bem informado. Você tem um amigo assim?
Mazé Maurício, jan. 2018.