O primeiro espanto surgiu na última quarta-feira, data em que a contagem de mortes diárias causadas no país pela covid atingiu a marca de 1.840 vítimas, o mais alto número registrado desde o início da pandemia. O segundo veio dois dias depois, quando o jornal Valor Econômico divulgou projeções feitas pela cúpula do Ministério da Saúde de que, ainda este mês, o Brasil terá 3 mil óbitos a cada 24 horas e viverá nas duas próximas semanas o pior momento da escalada do coronavírus em território nacional.
A dimensão da tragédia humana que aponta no horizonte pode ser melhor compreendida se o olhar for além da frieza estatística. Caso a nova estimativa se confirme – e os sinais indicam uma probabilidade muito alta de que isso aconteça -, o Brasil verá desaparecer por dia a população de cidades pequenas como Maetinga, na Bahia, onde vivem 2.764 pessoas. Em uma semana, a conta chegaria a 21 mil mortos, soma equivalente aos habitantes de municípios do interior do estado do porte de Madre de Deus, Ibicaraí e São Felipe.
Ao prever tamanho salto na mortalidade, os técnicos do ministério se basearam em uma conjunção de fatores que, segundo o Valor, formaram a “tempestade perfeita”: alastramento do vírus em todo o país, impulsionado pelas aglomerações no fim do ano e no Carnaval; recusa da população em manter o isolamento social; circulação de novas variantes com grande poder de contágio e alta carga viral; iminência de colapso simultâneo na rede hospitalar de diversos estados; e, óbvio, a falta de vacinas disponíveis para imunizar os brasileiros com rapidez.
Embora o Brasil inteiro esteja em nível crítico ou muito perto dele, o Sul ocupa hoje o topo das preocupações, segundo o panorama traçado pela pasta. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a taxa de ocupação das UTIs atingiu 100% ou ficou perto disso ao longo da semana. Mas o alerta de perigo já disparou também em Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, que registrou novo recorde de mortos no último dia 26, com 137 vidas abreviadas pela doença. Desde então, o número ficou quase sempre acima das 100 vítimas fatais.
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