Oh, noite esquisita! Pela primeira vez na vida, ao longo dos meus quarenta aninhos, levantei exatamente 1 da madruga, supri, uma das minhas necessidades especiais e, como se não tivesse o que fazer, fui justamente até aquela grande caixa que fica na cozinha cuja função, quiçá a mais importante, também é preservar o que vamos comer.
Mas isso, depois de ligar o not, meu companheiro de viagem, que só não dorme comigo porque a cama é pequena. Primeiramente, pensei em dar continuidade à escrita de um projeto. Sabe como é, ne?! Quando as ideias chegam, ninguém deve deixá-las escapar e retornar para casa. Senão se configura um tremendo desperdício, morte na certa! Nunca mais o escritor as vê. Por isso digo morte. E, com certeza, as coitadinhas sofrem pra caramba, pois vivem sua epifania, antes do funeral: querendo ser notadas, mas são rejeitadas. Enfim, comecei por aí.
Como saí do quarto, sentindo um buraco no estômago e vontade de comer, lembrei um pedaço de pão de forma fresquinho, que sobrara do café. O pior foi que eu mesmo o tinha reservado para minha amada, e, dessa vez, o amor não resistiu ao desejo de devorar aquela isca. Não dava nem para tapar um buraco no dente. Imagine o estômago! Passei uma manteiguinha, daquelas bem amarelas, da cor não sei nem de quê! Eu sei é que não matei a fome. Que coisa, hein!? Contando, tem gente que nem acredita.
Enfiei a cara na tela e, em vez de penetrar o espaço em branco daquele texto iniciado havia tempo, fui tomado, surpreendido, dominado por louca ideia: escrever ao pé da letra o que acontecia; naquele mesmo momento. Ou melhor, exatamente agora! Em tempo real. Só que agora, além do pão, já devorei alguns pedaços de mamão, cortadinhos na geladeira, também sobra, do almoço. Ficariam para o café da manhã. Agora já era. Ainda tem uma outra coisa a acontecer. Quer saber? Quero te dizer! Estou quase no escuro, esfregando a cara no teclado, e catando milho, como muita gente diz. Como enfatiza a cultura popular, do povo sábio, que o bobo vive a subestimar. Ficou curioso? Não posso fazer barulho, ligar a luz! Assim minha negona – é um elogio! – dona do meu coração acorda, e é capaz de amanhecer o dia em claro . E se ela me visse aqui, me chamaria até eu voltar para o aconchego. Gosto de lá, só que perderia a chance de conversar com você, para sempre.
O que prefere: fico aqui ou volto pra lá?
Mazé Maurício, mar.2020.