Nunca imaginei que o aparelho celular fosse tão indispensável! Não é que o danado é mesmo útil?! Eu, por exemplo, já realizei grandes façanhas e resolvi os mais diversos problemas com um deles. Mas igual ao filho de uma amiga-irmã não tem. Imagine o que ela me contou! Trata-se de um menino que, na verdade, não é mais criança. Só que ele dorme, e permanece com os fones nos ouvidos. Se chega à mesa para o almoço, estão lá, os dois, bem enfiados, tanto que ele nunca escuta o que pai e mãe falam. Se vai atender a qualquer visita, nem pensar em fones tirar! Onde já se viu uma coisa dessas? Mas também, com a educação do século XXI tudo é possível. Deixa pra lá! Não é da sua conta, e muito menos da minha!
O que há de gente adotando esse aparelhinho como companheiro de cama não tá no gibi! E, diga-se de passagem: ele consegue massagear o ego de todo mundo. Não falta felicidade pra ninguém, nem que seja por tempo limitado. Massageia tanto que tem empresas trocando de empregados a toda hora. Porque os coitadinhos, em vez de acordar e se cuidar para pegar no batente, vão direto à telinha. Aí, como diz meu amado, “a p*&&# pega! A porca torce o rabo, pois o plim… plim não para. E querem atender a mil chamados em minutos! Clicam tanto aqui e ali que deixam de perceber o tempo passar. Quando chegam ao trabalho são conduzidos ao escritório do patrão e recebem a carta de demissão. Nessa hora, percebem que alegria de pobre dura pouco, e o corriqueiro um dia cansa. Tudo acaba! Tem início, meio e fim!
Voltando ao nosso garoto, ou melhor, a um homem feito, parece que também merece mais um pingo de atenção. O bicho é tão fascinado pelos presentes oferecidos pela generosa internet que não desgruda do companheiro de aventuras um minutinho. Pena que ainda não se deu conta de que aventuras não garantem roupa, bebida, casa e comida. Mas, como disse a mãe, sua felicidade não teve vida longa. Acostumado a adotar os hábitos mais interessantes possíveis, com seu melhor amigo, nunca o deixou sozinho nem para suprir suas necessidades mais especiais. Nem mesmo na hora de descer o barro! Durante toda a sua vida, começando pela adolescência, sempre usou o celular, até nesse momento do qual alguém jamais conseguiu fugir, inclusive sua chegada serve de alívio para todas as pessoas do mundo inteiro.
Enquanto a genitora do dito cujo se apegava às orações, clamando pela libertação do filho, o que era comum, ele simplesmente visitava o amigo guloso com os fios no aparelho auditivo e o eletrônico na mão. Acho que não preciso, aqui, descrever como baixava as calças, mas tenho que informar o pior: bocão não mais teria a chance de receber novos visitantes, de socorrer quem conhecia a verdadeira paz ao desfrutar da sua receptividade. Recebera um alimento inusitado, e ficara entupido para todo o sempre! O que custou longas horas de lágrimas do homem que ainda hoje chora feito menino. Perdera seu grande companheiro! É isso que dá usar celular até na hora de cagar!
Mazé Maurício, 28 jun. 2020.