A pandemia de covid-19 ainda não acabou na Bahia. Uma prova disso é o surto que ocorreu na emergência do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), que fica no bairro do Cabula, em Salvador. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que confirmou o estado de surto, nove pacientes testaram positivo para a doença e precisaram ser transferidos para unidades de referência que tratam a Covid-19.
Os nomes, idades e estados de saúde dos pacientes não foram divulgados. Ainda segundo a Sesab, outros nove funcionários testaram positivo e precisaram ser afastados. No entanto, uma funcionária da unidade, que conversou com a reportagem enquanto esteve na frente da emergência, disse que o número de profissionais contaminados é maior do que nove e que, na tarde dessa segunda-feira (22), ainda haviam seis pacientes contaminados com a covid aguardando a transferência.
“Tem cinco pacientes com covid. Na verdade, são seis, pois acabou de sair um resultado positivo. O local onde eles estão é vazio, mas a gente tem que entrar para fazer os procedimentos”, diz a moça, que reclama da sobrecarga de trabalho.
“Normalmente, umas 25 pessoas estariam trabalhando aqui e só tem oito. Muita gente está afastada. E isso é ruim, pois o pessoal fica sobrecarregado. Agora mesmo chegou um caso de arma branca que foi um Deus nos acuda”, revela.
É que o Roberto Santos não é destinado para atender casos de covid-19 e sim outras demandas na saúde. O caso de arma branca em questão trata-se de um senhor que, após ser esfaqueado, foi levado pelo vizinho à unidade. “Eu não sabia que estava tendo esse surto. Agora fiquei com medo. Se bem que eu estou vacinado, mas eu não sei se ele tomou todas as doses. Se tivesse antes o conhecimento do surto, não teria trazido para cá”, comenta o vizinho.
Ele também não quis ser identificado, assim como outra paciente que esperava notícias de uma amiga que tinha sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ao contrário do rapaz, ela disse não ter medo do surto. “Foi a regulação que a trouxe para cá. E se a gente for pensar, tem pandemia em todo lugar, não é só aqui dentro”, argumenta.
Segundo a Sesab, o surto foi registrado no dia 18 de novembro e medidas de contenção foram feitas para que não houvesse espalhamento do vírus nos demais setores do hospital. “A emergência ficou com restrição de atendimento enquanto os pacientes foram transferidos. Após isso e os procedimentos de higienização, a emergência voltou a atender normalmente, com pacientes sendo encaminhados via regulação”, disse a nota.
O CORREIO apresentou à Sesab as queixas da funcionária e perguntou o nome das unidades para onde os pacientes com covid-19 foram transferidos, mas não obteve retorno até o fechamento do texto.
Sindicato e profissionais da saúde revelam preocupação com surto
Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed-BA), Ana Rita de Luna aponta que o surto no Roberto Santos, o maior hospital público de todo o Norte/Nordeste, é um sinal de preocupação para os gestores. “É um sinal que tem que ter toda a atenção. É preciso ligar o alerta mesmo para fazer todas as ações necessárias e evitar que esse surto se propague”, diz. O medo é de que esse episódio seja um sinal de que a Bahia pode enfrentar uma terceira onda.
“Surtos são sempre preocupantes. A gente está vendo como está a Europa e precisamos nos preocupar com essa situação, pois Salvador está parecendo que não tem mais covid. O povo está na rua, fazendo aglomeração e é preocupante o que nos espera”, relata Ivanilda Souza Brito, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado da Bahia (SindSaúdeBahia)
De acordo com o médico infectologista Victor Castro, um surto é caracterizado por um aumento inesperado do número de casos de uma doença em um determinado período e local. “Nesse caso específico, observou-se uma piora entre os números de pacientes e profissionais da saúde. Existe, portanto, uma chance grande de ter ocorrido uma transmissão interna. E todo aumento de casos precisa ser observado com atenção”, reforça.
É nesse sentido que o Sindimed divulgou uma nota se dizendo contrário a realização do Carnaval. Para o sindicato, eventos como esse podem agravar a situação do estado e trazer mais sobrecarga para os profissionais de saúde. “A gente tem uma preocupação muito grande em relação a isso, pois são dois anos de pandemia, com momentos de fechamento de atividades médicas que são eletivas e pacientes crônicos que não foram tratados e agora a situação se complicou”, relata Ana Rita de Luna.
Para especialista, flexibilizações ou redução na vacinação podem causar surtos de covid
Cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid, Isaac Schrarstzhaupt tem observado os números referentes a Bahia e enxerga um cenário de estabilidade nos dados de novos casos e mortes. No entanto, ele alerta que as flexibilizações, com a permissão de mais aglomeração, e a redução na velocidade de vacinação pode favorecer o surgimento de surtos como esse.
“A vacinação na Bahia, aparentemente, está muito mais devagar na primeira dose e começando a estagnar a segunda também”, relata.
Esse problema também é compartilhado pela capital. Entre as pessoas com 12 anos ou mais habilitadas para o recebimento da 1ª dose, mais de 70 mil ainda não compareceram aos postos para iniciar o ciclo vacinal; outras 283 mil estão com o fechamento do esquema atrasado e cerca de 156 mil ainda não foram tomar a dose de reforço.
O titular da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Leo Prates, afirma que os números são alarmantes e preocupantes e apela para que as pessoas busquem o imunizante para evitar uma nova onda da doença na cidade. “Este é um número que muito nos preocupa e é um cenário que já estamos acompanhando na Europa, chamado de ‘pandemia dos não vacinados’. Na Alemanha, França, Dinamarca e Áustria, por exemplo, o aumento do número de casos, internações e mortes, atualmente, são de pessoas que não se vacinaram contra o vírus”, diz.
Fonte: Correio