Para o estudante intercambista colombiano, Juan Pablo Gómez, 18 anos, não pode faltar ovo nas refeições diárias. Quando chegou em Salvador, em março de 2020, o jovem comprava uma placa com 30 ovos por R$ 9, mas, agora, o mesmo item sai por R$ 16. O preço aumentou, apesar da produção de ovos da Bahia ter crescido em 31% no ano passado na comparação com 2019, segundo as Pesquisas Trimestrais da Produção Pecuária referentes ao ano de 2020, divulgadas na quinta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo aponta que foram produzidas 58,3 milhões de dúzias de ovos no estado em 2020. Com o resultado, a Bahia atingiu recorde de produção em 19 anos, quando foi iniciada a série histórica do IBGE.
O avanço de 31% na produção do alimento ocorreu após dois anos seguidos em queda e foi o maior crescimento percentual da série. Com um aumento absoluto de 13,7 milhões de dúzias em um ano, a Bahia foi o terceiro estado mais intenso entre os produtores, em 2020.
Dono da Avícola do Vale, Jackson Rodrigues dobrou a produção de ovos entre 2020 e janeiro de 2021, passando de uma fabricação diária de 100 mil ovos para 200 mil. O empreendedor percebeu o aumento na demanda pelo alimento no ano passado.
“Os granjeiros expandiram a produção porque teve mais consumo nacional. Como somos uma granja nova, a expansão já era planejada, mas também sentimos que existia uma procura maior pelos produtos”, explica Jackson.
Preços mais altos
Mesmo com o aumento da demanda, a situação não é das melhores para os granjeiros, garante o dono da Avícola do Vale. De acordo com ele, os custos de produção têm encarecido bastante sob a influência da alta do dólar. A partir do 3º trimestre de 2020, Jackson percebeu um crescimento de 100% no preço da soja, de 80% no valor do milho e de mais de 80% no custo das embalagens – todos insumos necessários para a granja.
“Nossa moeda está desvalorizada, então, estão vendendo os itens para o exterior e o preço vai lá pra cima. Com isso, temos retraído a produção para tentar sobreviver”, explica Jackson.
O problema, de acordo com ele, é a dificuldade para repassar os custos para o consumidor. No meio do ano passado, o granjeiro vendia uma placa de 30 ovos no atacado de R$ 9,50 a R$ 10. Atualmente, o item é comercializado por R$ 12 a R$ 12,50. Entretanto, o dono da avícola pontua que a placa deveria ser vendida no atacado por R$ 14 para cobrir os custos de produção.
Proprietário da granja Ovos Caipiras, em Feira de Santana, José Oliveira explica que o ovo tem uma característica diferente de outros alimentos porque sofre uma interferência em seu preço que praticamente é semanal. Ele explica que, entre março e maio de 2020, no início da pandemia, o preço subiu bastante porque a oferta não dava conta da demanda: muitas pessoas foram ao mercado de vez e tentavam estocar para evitar muitas saídas de casa.
“Depois disso, entrou em estabilidade porque a produção estava em alta. Aí despencou o preço. Mas, ao mesmo tempo, os insumos, por conta do dólar, subiram demais. Está insustentável. Muitos granjeiros estão fechando”, avisa José, que produz cerca de 200 mil ovos por dia.
Há uma expectativa no setor de que uma eventual aprovação do novo Auxílio Emergencial aqueça o mercado novamente. Também há a torcida para que bares, restaurantes e similares – grandes consumidores de ovos – possam voltar a operar com normalidade.
Reajustes
Se os clientes já reclamam do preço da placa do produto, as críticas só devem aumentar com novos reajustes. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, o preço ao consumidor do ovo subiu 5,71% em 2020 na Região Metropolitana de Salvador. Em 2019, o reajuste tinha sido de 1,91%. Para esse ano, os valores ficaram ainda mais caros. De acordo com o instituto, no acumulado de janeiro e fevereiro, o ovo de galinha registrou alta de 4,15% na RMS.
As Pesquisas Trimestrais da Pecuária para o ano de 2020 apontam ainda que a produção brasileira de ovos de galinha foi de 4 bilhões de dúzias em 2020 – 3% maior que a de 2019. Segundo o IBGE, o resultado foi influenciado pelo aumento do consumo do produto em meio à recessão instaurada por conta da pandemia, por se tratar de uma proteína de valor mais acessível em comparação às carnes.
Responsável por 28,9% do total, São Paulo é o líder na produção nacional de ovos de galinha. A Bahia respondeu, em 2020, por 1,5% do total, frente a 1,2% em 2019.
Outros índices:
- Frango
Assim como a produção de ovos, o abate de frango na Bahia avançou em 2020 na comparação com 2019 ao registrar um aumento de 6,6%, o que fez com que o estado chegasse a um novo recorde histórico desde 2006. No ano passado, foram abatidos 127.239 milhões de animais – 7.910 milhões a mais do que no ano anterior. Esse foi o sexto crescimento anual consecutivo no abate de frangos na Bahia.
No Brasil, 2020 também foi ano de recorde no abate de frangos. Foram abatidos quase 6 bilhões de animais – 3,3% a mais do que em 2019 (mais 190,8 milhões de cabeças). O abate cresceu em 14 das 19 unidades da Federação com resultados para essa atividade no ano passado. A produção baiana representou 2,1% do total, mantendo-se estável em relação a 2019.
O IBGE pontua que o frango é uma carne com valor mais acessível do que as demais e, como não teve destaque na pauta de exportações em 2020, é possível considerar que boa parte do aumento no abate foi destinado ao consumo interno.
- Leite
Em 2020, a aquisição de leite apresentou o 4º aumento consecutivo (+22,3%) e chegou a 564.512 milhões de litros de leite adquiridos pelos estabelecimentos de laticínios sob algum tipo de inspeção sanitária no estado, cerca de 103 milhões de litros a mais que em 2019 e o patamar mais alto em 23 anos.
Nacionalmente, os laticínios sob serviço de inspeção sanitária captaram 25.5 bilhões de litros em 2020 – um aumento de 2,1% em relação a 2019. Houve aumento no volume captado em 14 das 26 unidades da Federação participantes da pesquisa.
No ano passado, a Bahia respondeu por 2,2% de todo o leite adquirido no país, aumentando mais um pouco sua participação nessa produção nacional, que era de 1,8% em 2019.
- Bovinos
Em 2020, foram abatidos 958.899 bovinos na Bahia. O resultado representa uma queda de 19,8% em relação a 2019, o maior recuo da série histórica do IBGE, iniciada em 1997. No ano passado, foram abatidas 237.151 cabeças de gado a menos ante 2019.
Foi também a maior queda percentual entre todos os 24 estados com informações sobre abate de bovinos no ano passado. Em 2020, a Bahia ficou com 3,2% de participação no ranking do abate de bovinos, abaixo da verificada em 2019 (3,7%).
Na Bahia, o resultado do abate bovino, em 2020, foi a primeira retração após três anos de variações positivas, o que resultou no menor número de animais abatidos em 14 anos, desde 2006.
No país, em 2020, foram abatidas 29,7 milhões de cabeças de bovinos em estabelecimentos sob algum tipo de serviço de inspeção sanitária. Foi registrada uma queda de 8,5% em relação a 2019, após três anos de crescimento.
Segundo o IBGE, ocorreu o ciclo de alta na bovinocultura em 2020. O preço da arroba subiu e o bezerro, um dos principais insumos de produção, estava escasso e valorizado, o que levou os criadores a deixar de abater as fêmeas, poupando-as para a criação de bezerros.
- Suínos
O abate de suínos teve retração de 0,8% na Bahia em 2020 ante 2019. No ano passado, foram abatidos 141.740 animais, 1.170 a menos do que no ano anterior, quando o estado registrou recorde na atividade desde o início da série histórica do IBGE em 1997.
No Brasil, foram abatidas 49.3 milhões de cabeças de suínos em 2020, um recorde nacional, com aumento de 6,4% em relação a 2019. Desde 2005, ocorrem altas ininterruptas do abate de suínos no país. A Bahia representou apenas 0,3% do abate nacional em 2020, mesmo percentual de 2019.
FONTE: Jornal correio