Inclusão durante o carnaval, essa foi à proposta de um grupo de amigos de Madre de Deus, cidade localizada a cerca de 60 km de Salvador. Antecipando os festejos, nesta terça (18), o bloquinho “Inclua-se” esteve na rua com um projeto que busca inserir crianças especiais no contexto social e cultural da comunidade abriu o carnaval da ilha com muita serpentina, confete e música. A fantasia e a diversão tomaram conta da rua, estando disponíveis pinturas, pula-pula, piscina de bolinhas, sorteios e concursos, fazendo a alegria da criançada, que puderam interagir de forma lúdica, provando que para ser folião não tem idade e portar alguma deficiência não a impede de se divertir.
Em sua primeira participação, o “Inclua-se” levou cerca de 90 crianças, acompanhadas de jovens e adultos, a celebrar de uma forma mais plural a maior festa de rua do país. Contando com o apoio do poder público, as normas de segurança também foram aplicadas na ação, estando de prontidão os paramédicos do SAMU e do Trânsito, da SUCOM. O evento ainda contou com a participação de membros do Conselho Tutelar e diretores de escolas.
Profissional da área de saúde do município e com muitos pacientes especiais, sobretudo crianças, a Fonoaudióloga Clínica, Luciana Gomes foi à idealizadora do projeto. Luciana criou o primeiro carnaval inclusivo, contando com o apoio e colaboração de diversos amigos que abraçaram o projeto e se voluntariaram pela causa. Seu marido, Ericson Gomes, que também é Secretário da Juventude do município, foi um dos grandes entusiastas e incentivadores para a viabilização da ação.
A ideia surgiu quando Luciana percebeu que seus pacientes infantis e responsáveis não frequentavam aos festejos de carnaval, ficando reclusos em suas residências. Para mudar esse cenário ela decidiu fazer uma corrente do bem junto com os amigos, e levar os portadores de algum tipo de deficiência para a rua. A intenção da fonoaudióloga é mais ampla e buscará que todos os espaços sejam ocupados, fazendo com que os pais e os portadores das deficiências sejam efetivamente incluídos na vida em sociedade.
“Fiquei muito feliz que as pessoas abraçaram o evento. Cuidar de quem tem deficiência é uma rotina muito dura, então é preciso ter esses momentos de lazer, ter uma busca por politicas públicas para melhorar a qualidade de vida e termos uma sociedade mais justa. Acho que isso é muito válido. É muito bom ver gente se divertindo independente de se ter deficiência ou não e é importante ensinar o seu filho a conviver com o diferente. Esse momento é de inclusão social para que possamos diminuir as barreiras diárias. Então por que não trazer isso para diversão, para o Carnaval, um festa tão popular? Bonito os ver brincando, interagindo sem fazer distinção. Eu gosto do que eu faço, eu faço por amor, essa luta pela inclusão. E o principal, que todos saiam daqui com o olhar diferente”, ressalta.
Foliões Mirins
O pequeno Miguel Fraga, de um ano e três meses, tem Síndrome de Down e participou de sua primeira folia fantasiado de palhaço. Sua mãe, Cristiane Fraga classificou o evento como muito importante, ressaltando que geralmente mães de portadores de deficiências querem esconder seus filhos, mas que essa é a oportunidade para que todos os conheçam. “Eu sou mãe, estou a caráter e entro no clima. Estou com o meu filho o tempo todo. A gente tem que viver isso, a inclusão. Temos que está juntos e com certeza esse é um evento que deve continuar”, contou a animada Cristiane.
Com 08 anos e cadeirante, Jailson Júnior vestiu o uniforme do seu time do coração, o Esporte Clube Bahia e curtiu a festa junto com sua mãe Regiane Almeida, que pontuou a necessidade de mais ações que garantam a integração e interação das crianças com necessidades especiais. “Acho esse evento interessante, para chamar a atenção da população quanto às crianças com deficiência. Assim, a população participa mais e faz parte de tudo isso. Existe um número muito grande de crianças com autismo e espero que tenham muitos eventos como esse para que elas possam se integrar. Percebi que meu filho gostou muito, ele acaba vendo mais crianças que são diferentes dele e ao mesmo tempo parecidas. E ele também acaba chamando a atenção de outras crianças”, disse Regiane.
Voluntária no evento, a fisioterapeuta Mirian Barbosa mostrou-se satisfeita com o resultado da primeira experiência do “Inclua-se” para os pais e filhos, por conta da inclusão, entendendo como marcante na vida de todos que participaram. “Luciana veio com a concepção de trazer o carnaval para essas crianças, eu vim como apoio. A idealização desse projeto é para que essas crianças tenham acesso a um momento de alegria, como qualquer cidadão. Ver as crianças dançando é um prêmio para nós profissionais. É maravilhoso ver que o trabalho que a gente tá realizando lá no ambulatório se estendendo aqui na rua, com alguns que tinham dificuldade de caminhar e de interagir”, ressaltou Mirian.
Para Luciana, o “Inclua-se” se tornará mais uma ação para engajar a população, despertando a necessidade do fomento de políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência. “A gente deve buscar a inserção, temos que incluir. Mas não podemos parar por aí, temos que ir em busca da ascensão também, isto é, do crescimento destas pessoas em todos os aspectos, inclusive o socioeconômico. Hoje elas são crianças, amanhã adultas. Elas precisam está preparadas para o mundo, mas o mundo também para elas. E é nosso papel lutar por isso. O “Inclua-se” é apenas o primeiro passo de muitos que daremos”, enfatizou Luciana.
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